segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os Vivas

"Viva a poesia, viva o amor ainda que platônico, embora este seja o mais sublime pois é sempre lúdico,
Viva a romaria dos santos, cortejo dos profanos, sinceridade e hipocrisia, a religião do praticante e a vida vadia.

Viva as praças, seus arvoredos, inocentes e amantes que nela se espreitam, juntam mãos e lábio inteiro,
Viva o conto do seresteiro, a boemia e o flagrante, a garrafa e o cachaceiro, o hébrio e seu romance.

Viva a janela donde anela a silhueta que a roupa cobre, a roupa veste inteira mas não há nó que não se solte ,
Viva a morena faceira, viva a timidez do nobre, ela encanta a vila inteira e torna o rico no mais pobre.

Viva para os vivas dos mancebos e suas estolas, percorrem toda a cidade divertindo a própria corja,
Viva o cacho de cabelo cobrindo um só olho da face ruborizada do figalgo bem disposto.

Ele, sedutor e nobre, belo e errante vinga o rico enlaçando a morena,
Ela linda, perfumosa, basta uma perna a mostra, vence o homem e ainda o beija.

Viva a mulher de saia e o garoto insolente que é o vento precisamente posicionado a soprar,
Viva a roda e sua cantiga, o que toca e o que afina, o que tudo faz cantar, quem de todos tem estima.

Viva o mudo e o que fala, o que fere e o que pena, viva mais quem usa a pena para a dor exorcizar,
Viva é a tinta que é o sangue da poesia cujos vivas vão de vida em vida, século e dia sempre a verbalizar."



por Eduardo Pessoa Goulart

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Um Moderno Romeu?

 
Ah, eu pensei ter o controle disso!
Mas desestabilizei-me diante de tamanho sorriso, perdi as rédeas, deixei-as em tuas mãos
E aos poucos me sinto puxado, resposta do teu querer que também me quer, eu acho.

A esperança é esta, a de que eu não ame sozinho, não outra vez,
Mas que o que sinto seja recíproco, forte a ponto de fazer-me redivivo
Tomando-me nos braços e fazendo-me livre, pois sou preso no escuro e veja, até o teu nome diz ser a luz que preciso.

Que as palavras me faltem e aumentem os suspiros,
E que se apegue minha boca à tua, que nossas mãos sejam uma, favorável nos seja o destino dessa vez,
Amor meu, liberdade minha, arrasta meu corpo, percebe os sinais que me tornam refém.

Já que sou presa, aceito meu fim,
Se este for ser cativo do romance previsto por devaneios tolos de um moderno Romeu.
Aceito a morte se esta for em teus braços, mas prefiro a vida sempre ao teu lado, tuas amarras me prenderam e agora sou teu.

O jeito, a voz, os pés, os olhos, a boca, o corpo, o tudo.
Não há uma só pessoa em todo este mundo que me convença de defeitos no alvo do meu querer.
Eu te juro que o gostar que instigaste em mim torna tudo mais fácil, o contrassenso é o teu cuidado, teu olhar assim de lado, não precisa sequer lutar porque eu te deixo vencer.

por Eduardo Pessoa Goulart

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A Decisão de Uma Mulher

Ela é feita de que? Que contrastes vejo nela,
Se está ferida não mostra, e mesmo escrava faz-se bela.

Contudo não contenta mais o ser tão preterida,
Apesar de desejada quer por fim ser mesmo vista.

Quem não ama de verdade não pode jamais percebe-la,
Mas quem sente a dor na carne sabe ler o que ela pensa.

E num toque tão Divino de repente despertou
Deixou de ser escrava e livre, livre se tornou.

Olha agora como é linda a menina na mulher,
Sabida fez escolhas, e por fim sabe quem é.

Eduardo Pessoa Goulart

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Lugares

"Há lugares tão familiares que parecem ressoar notas musicais, tem cheiro de casa de avó, sabor de sobremesa favorita, quando lá estamos nos sentimos plenos e rimos, e se longe vamos parece que olhamos um album de família, foto amarelada, saudade de primos e tias. Tem lugar que é colo de mãe, passeio no sítio, abraço de pai, lembrança de amigos, xadrez com o avô, brincadeira com o cachorro, rezar com o filho, manta de retalhos, verdadeiro abrigo. Definitivamente há lugares tão familiares onde sou sempre visto, ouvido e bem-quisto, quero pois transportar-me a tais lugares, deles posso dizer que penso, logo existo".

Eduardo Pessoa Goulart

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ata-me

Ata-me aos teus braços
Usa o poder de sermos um
De dar febre a nossa pele
E razão aos respiros

O compasso acelerado do coração
É mais quente quando um outro vem
Dois somam tudo sem medo do não
Amo a descoberta de que além de mim há mais alguém

Ata-me com força e não deixa que eu me solte
Se prenderes bem forte nunca mais te deixarei
Esperei tamanha sorte e por ela me esforço
Então burla a covardia e vence

Desformes na matéria, alinhados no toque
Um desespero se instala ao pensar na ausência tua
Longe, usa a força abrupta, enlaça a presa
Ata-me, prenda-me, faz-me coisa tua.

Eduardo Pessoa Goulart

terça-feira, 19 de julho de 2011

Eu Comigo

"E se eu não tive a intenção por que dói tanto o coração?

Eu ser acusado é tão injusto, o que não é tão pior que ser esquecido.

Onde está a voz que me dava boa noite e que já não está comigo?

Ao som de uma música triste eu me ergo, olho no espelho e gosto de tudo o que vejo,

Digo a mim mesmo "Bom Dia" e prossigo, sozinho, eu comigo"!


por Eduardo Pessoa Goulart

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Horizonte

Ah, horizonte cretino que me prende ao instante
Que cativa o presente e resgata o distante
Com o passado me fere tal qual ferro cortante
Faz sangrar a ferida cuja dor é pulsante

Não queria jamais reportar-me a esse tempo
Pois ao ver essas ruas recordei sofrimento
Era tão pequenino, mas lutava por dentro
Eu pedia que a vida voasse no vento

Quem me deu essa dor? Quem me fez tão mal feito?
Diga ou então por favor, cala já o meu lamento
Libera o futuro que pode ser outro
Pois construo ao meu gosto um cenário bondoso

Quer saber? Eu receio que foi bom relembrar
Pra fechar a ferida e não mais ve-la sangrar
É preciso saber onde encontra-se a dor
Descobrir na medida o remédio do amor

O amor de quem abre o baú da verdade
Que revela correntes na alma e as arranca
Tão nobre sentimento encontrei ao te olhar
Fez doer num momento pra não mais machucar

Me perdoe horizonte por chama-lo cretino
Era só a defesa de um crescido menino
Deixa estar se ainda não pude curar
Mas a dor com certeza já não matará.

por Eduardo Pessoa Goulart

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cintra

Tu és infinito de contradições e grandezas.
Um forte cavaleiro frágil em seus dilemas.
Um Templário a guardar um segredo,
Por certo és a coragem entre os medos.

Quem pode descrever-te assim, sem armas?
Aos que riem de tua graça não lhes passa
Que trás das máscaras choras por sofrer,
Tu sofres o ser grande, maior que tempo e lei,

Sem cruzadas, sem cavalos, sem reinos, sem triúnfo.
Isso tudo te instiga, onde estão teus bravos justos?
Incansável vence os tempos e vive sem os ter,
Longe da velha Cintra onde quer que for nascer.

Mas alento pra tua busca onde então encontrarás?
Entre damas, absinto, nas tabernas acharás?
Quem sabe entre amigos tal qual távola redonda?
Ou por ser tão bem descrito sem por mim ter sido visto.

por Eduardo Pessoa Goulart

Rivka

Tudo o que ela quer? O mundo, o tudo!

Ela é menina, é mulher, é muito, é fuso.

Mistura receitada com pitada de amor curvo,

Ela é festa em choro, é a luz no escuro,

É dispersa, é Rebeca, alma bela até em luto.


por Eduardo Pessoa Goulart

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Eu Falo Paralelo, Outro Idioma

Eu falo o paralelo, outro idioma,

Converso contigo a meias palavras, entoo bem forte o que a tua voz cala.

Falo do que é pertinente, do caos em minha mente, estrago o que é certo

O que ninguém mais sente.

Eu ando à tua sombra, me escondo em cataclismas,

É o medo de ser eu, de deixar-me assim à vistas.

Mas deixa que por certo hás ainda de ver-me,

Bonito e maltrapilho, desarrumado mas vivo.

O que te deixa pensativo é o que escondo em meu falar,

Por entrelinhas conto histórias, quem as há de decifrar?

Elas são memórias, são póstumas,

São glórias, são derrotas, são a fala de um amante que jamais pôde amar.

Abra teu caminho para eu nele me mostrar,

Saindo de tua sombra sendo eu o vexame de amar,

Sem vergonha, sem limites, sem pudor, sendo livre.

É o querer ser ouvido e por teus olhos bem quisto,

Compreendido num dialeto que é a expressão do meu gostar.

É intrínseco, quase explícito, idioma paralelo é falar do que sinto.


por Eduardo Pessoa Goulart