segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os Vivas

"Viva a poesia, viva o amor ainda que platônico, embora este seja o mais sublime pois é sempre lúdico,
Viva a romaria dos santos, cortejo dos profanos, sinceridade e hipocrisia, a religião do praticante e a vida vadia.

Viva as praças, seus arvoredos, inocentes e amantes que nela se espreitam, juntam mãos e lábio inteiro,
Viva o conto do seresteiro, a boemia e o flagrante, a garrafa e o cachaceiro, o hébrio e seu romance.

Viva a janela donde anela a silhueta que a roupa cobre, a roupa veste inteira mas não há nó que não se solte ,
Viva a morena faceira, viva a timidez do nobre, ela encanta a vila inteira e torna o rico no mais pobre.

Viva para os vivas dos mancebos e suas estolas, percorrem toda a cidade divertindo a própria corja,
Viva o cacho de cabelo cobrindo um só olho da face ruborizada do figalgo bem disposto.

Ele, sedutor e nobre, belo e errante vinga o rico enlaçando a morena,
Ela linda, perfumosa, basta uma perna a mostra, vence o homem e ainda o beija.

Viva a mulher de saia e o garoto insolente que é o vento precisamente posicionado a soprar,
Viva a roda e sua cantiga, o que toca e o que afina, o que tudo faz cantar, quem de todos tem estima.

Viva o mudo e o que fala, o que fere e o que pena, viva mais quem usa a pena para a dor exorcizar,
Viva é a tinta que é o sangue da poesia cujos vivas vão de vida em vida, século e dia sempre a verbalizar."



por Eduardo Pessoa Goulart

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